sábado, 29 de julho de 2017

A tormenta brasileira



Nos últimos anos, a polarização entre esquerda e direita intensificou-se e a corrupção tem sido à tona dos noticiários desde então. Entramos em um labirinto, onde somos bombardeados a todo momento com todo tipo de falcatrua dos péssimos representantes que estão no poder. Só existe isto. Corrupção, delação premiada, prisão domiciliar, caixa 2 etc. No dia seguinte tudo recomeça como num filme de terror.
Após o Impeachment de Dilma Rousseff, o ódio também cresceu em níveis assustadores e o debate virou violência. Amigos se transformaram em inimigos por posições ideológicas distintas.
A direita mantém seu tom de clamar pelos quatro cantos que o grande culpado é o PT. Esse discurso já está cansando, pois, o importante agora é olhar para frente e procurar melhorar este quadro que se instalou como um vírus. A esquerda também não fica atrás e insulta quem pensa diferente.
E o país está definhando. A população está cada vez mais miserável. Se não encontrarmos o meio termo para que todos possam viver em um país melhor somente haverá trevas. A violência, a fome, o sofrimento só aumentam.
Não quero viver em um país, onde vejo crianças e adultos catando comida no lixo. Onde pessoas morrem nos hospitais cada vez mais lotados. Onde as pessoas de baixa renda não possam acreditar em um futuro melhor e mais digno através do estudo. Não possam ter uma moradia decente.
Se você está lendo até aqui, provavelmente possui um smartphone ou um notebook e está agora protegido sob um teto. Quando o inverno bate à sua porta você possui um cobertor para lhe aquecer, uma cama macia para dormir. Até mesmo um carro ou uma moto para leva-lo da casa ao trabalho.
Para muitas pessoas, isto é algo distante. Você pode pensar: mas o que eu tenho a ver com isto? Eu lhe respondo que tudo.
Pense como seria se um indivíduo que está no limite da degradação resolvesse cometer atos impensáveis e atingisse sua família, roubando, agredindo, ou até mesmo sequestrando um de seus filhos. Seria horrível não é mesmo? Pois, este mesmo indivíduo poderia ter uma perspectiva diferente se estivesse trabalhando, estudando, acreditando em um país melhor. Acreditando que poderia evoluir e viver dignamente. É o que move todo indivíduo.
Existe aquele que reclama pela liberação de um passaporte e existe aquele que reclama por um prato de comida. Eis aqui uma enorme diferença.
O ser humano não pode viver numa bolha, como se fosse uma quimera de sonhos, onde tudo é belo, como nos contos de fadas. Por mais rico que seja, um dia ele sairá para o mundo e encontrará obstáculos, desafios cada vez maiores. Não podemos apoiar um governo que só privilegia, os 5% que o aprovam e que daqui a um mês talvez nem chegue a isto.
O desemprego só aumenta. A violência em alguns estados como o Rio de Janeiro cresce tanto que as pessoas não querem sair às ruas.
É um período nefasto onde o egoísmo se sobrepõe a tudo. As pessoas que possuem dinheiro não podem ser tão cegas a ponto de querer ver os outros seres na miséria. Este pesadelo tem que acabar e é preciso repensar a política buscando representantes que lutem pelo bem comum e não somente pelos mais abastados ou por eles mesmos. Cargo público não é pretexto para enriquecimento ilícito.
Do contrário, as novas gerações passarão a viver cada vez mais em condomínios com muros gigantescos, onde não estarão preparadas para o mundo real.
Assim como o Alexandre Kalil declarou em uma entrevista, eu também estou cansado desse vai e vem de processos e pizzas que virou o congresso e a mídia. Enquanto isso tem gente morrendo de fome, tem gente necessitando de remédio nos hospitais e sofrendo para sobreviver a cada dia.
Parece o livro O Processo de Kafka, em que a burocracia vai e vem sem nenhuma objetividade e ficamos circulando em um labirinto sem saída, sem compreensão e sem final feliz.  Um tormento enorme, onde a justiça não surte o efeito esperado.
Eu quero a solução para dar mais dignidade a quem está na miséria. Não é utopia querer viver num país onde haja mais gentileza, educação, oportunidades e crescimento.

Stefan Willian


domingo, 23 de julho de 2017

O perdão de Judas



A Cruz, talvez, seja tão pesada porque assim a colocamos em uma quimera repleta de devaneios.

Com um beijo, o homem o traiu.
Após uma amizade construída, um outro homem o negou três vezes.
Qual a diferença entre estes dois homens perante a humanidade?

Um foi perdoado e é o fundador da igreja. O outro é o eterno traidor.
O arrependimento tomou conta de Judas de forma tão intensa que ele tirou a própria vida. Isto ninguém fala. Geralmente, param na parte do beijo. As moedas de ouro não tiveram nenhuma serventia para ele.
Pedro negou Cristo três vezes demonstrando seu medo diante dos inquisidores. Posteriormente, também se arrependeu e se revelou indigno de ser crucificado como seu Mestre. E assim o crucificaram de cabeça para baixo.

Todos falharam, mas Cristo em sua infinita bondade os perdoou até mesmo antes de sua morte.
E a humanidade insiste em não seguir seu exemplo. O perdão alivia a Cruz de todos.
Mas que Cruz é esta que todos insistem em carregar e a tornar tão pesada em uma existência tão efêmera? Muitas vezes quem a constrói é o ser humano imperfeito, se vitimando, se acovardando, prejudicando os outros e criando seus próprios tormentos.

Assim como Rodion Romanovitch Raskolnikov, personagem principal da obra de Dostoiesvski, Crime e Castigo, há muitos atormentados nesta sociedade vil, que cometem seus atos de monstruosidade. Ao contrário do jovem estudante do clássico russo, muitos multiplicam suas ilicitudes se esquecendo das demais e as apinhando em uma montanha de pecados do cotidiano. A espiação é o caminho de muitos e ela se manifesta das mais diferentes formas. Personalizada nos termos mais atuais e não menos adequada a cada indivíduo pérfido. Sendo assim, apenas acredito na Justiça Divina. Esta obra, na Rússia, é recomendada nas escolas para os jovens. Aqui no Brasil deveria ser também. Um choque de realidade na juventude é um bom remédio.

Mudando de assunto, resolvi fazer uma pausa nos telejornais, pois tenho pressa de acordar deste pesadelo e rogo que chegue logo as eleições diretas.
Tenho apreço por filmes de terror, mas só de vez em quando. Todos os dias é demasiado exagero e a minha impressão é que tudo isto não passa de uma grande encenação entre poder e mídia que já passou da hora de acabar, como todo filme B. Apesar dos efeitos na população serem bem realistas.

Há quem esteja queimando o Judas até hoje. Certamente não olhou para o Congresso. E talvez não olhou para si mesmo. E eis que aqui estou falando de política. Hora de parar.
Em tempos de tanto ódio e polarização política estes são os piores devaneios.
Confesso que fiz uma pequena jornada até aqui, mas como sempre, vale a reflexão.
Encerro este texto numa manhã fria e agradável de domingo.
E que a semana seja boa!

Stefan









quinta-feira, 6 de julho de 2017

A compaixão do vira-lata



Mais uma noite fria se repete. O ritual é o mesmo de todos os dias. 
Uma manta suja serve de casaco de dia e à noite vira cobertor. Papelões se transformam em um colchão, pelo menos na mente do velho maltrapilho. 
Uma parede e uma calçada lhe afugentam do vento que corre tão solto que dá para ouvir sua voz. A geada ecoa pelas ruas.

Vivo mais um dia, pensa. Resisto até quando? Imagina.
A morte seria um consolo para tempos difíceis. O ser humano é incapaz de enxergá-lo. A invisibilidade o corrói.
Apenas um cachorro se senta ao seu lado. Um fiel e leal amigo vira-lata.
Até as pulgas se misturam. Ali tudo é cumplicidade. Até uma quentinha recém conquistada por compaixão é dividida. Isto é amizade!
Esse cachorro o mantém vivo. É a companhia mais humana dessa existência cruel.
Ninguém deveria dormir na rua. É indigno.
Amanhã começa mais uma batalha para o andarilho. Adolescentes se tornam julgadores maléficos e o empurram caindo na gargalhada e se exibindo para as garotas que riem, com certa pena.
Mas afinal, o que importa? Pensam. É só um mendigo.
O cão late de raiva ao ver seu amigo na sarjeta. Avança e leva um pontapé do jovem descolado. Mais uma gargalhada surge na volta da escola.
Hoje, não posso comer, diz o mendigo. Tenho dor nos poucos dentes que me restam. Fala para seu interlocutor canino que se achega e lhe lambe as feridas.

É mais uma triste cena do dia a dia. Amanhã tudo se repete. E o frio entra em seu sangue. Pelo menos se conseguisse uma pinga para esquentar os pulmões, logo pensa.
Vai até o bar e olha para o balcão. O dono o vê tremendo. Pega um descartável e serve a cachaça da compaixão. Dose dupla.
Entrega o copo e o pede para seguir o seu rumo. Um incômodo ambulante, logo dispensado pelo empresário.
Sem nada no estômago, engole de uma vez o líquido que desce marcando o esôfago como um acalanto de inverno. 
Ainda deu tempo de passar um jovem num carro conversível, do papai, que grita a plenos pulmões. Bêbado vagabundo!
Alerta três senhoras voltando da igreja que olham do outro lado da rua e balançam a cabeça em negativa finalizando com o sinal da cruz.
Misericórdia! Diz uma delas. E ainda temos que conviver com isto! Concorda a outra beata que acabara de confessar.

E o mendigo se afasta mais uma vez, como se desculpasse do pecado que não cometeu. Aperta o passo para não perder a calçada, certificando de que a fina manta e os papelões ainda estejam com ele. A gélida noite se aproxima. 
O vira-lata, o mantém a vista e não larga o dono. Mais que um amigo, um anjo.
Simeão arruma mais uma vez seu quarto improvisado na noite mais fria do ano.
Deita, e o amigo se aconchega ao seu lado tentando lhe transmitir algum calor. O próprio Simeão se recorda que tem nome e abraça seu amigo de forma intensa como se dissesse que o amava. O vento vem mais forte.
Uma lágrima escorre dos olhos do velho e o cachorro lhe devolve um olhar tristonho. É a última noite do maltrapilho. Sua despedida. Pela manhã, não levantou-se mais.
O cão não entendeu quando o levaram. Porém, latiu. Latiu muito! Protestou como num tribunal. 
A amizade das ruas tem laços mais fortes que se possa imaginar. Seria bom ter um final feliz para o vira-lata tão humano. Mas, com o fim da dupla não resistiu duas noites. Morreu como seu dono, de uma tristeza infinita. 

Stefan 

terça-feira, 4 de julho de 2017

Os deuses da música


Se no Olimpo reinava Zeus, Poseidon, Hera e Atena, no mundo da música ninguém reinou mais do que a Rainha.
Uma banda formada por deuses. Na guitarra um homem feito para dedilhar sua Red Special, Brian May, um gênio da música e da astronomia. No baixo, o lorde John Deacon e sua precisão absoluta. Na bateria o incrível Roger Taylor, destaque também nos vocais.
Mas como todo quebra-cabeça faltava uma peça para completar o maior quarteto musical de todos os tempos.
Quem poderia estar à frente desta verdadeira orquestra do Rock formada por deuses?
Simplesmente, a maior voz que já se ouviu em todos os cantos do mundo. A lenda Farrokh Bulsara, mais conhecido como Freddie Mercury. Ninguém o superou e jamais o superará. Impressionou até os clássicos cantando ópera com Montserrat Caballé. Uma voz poderosa e única.
Fama, drogas, sexo, dinheiro, doença. Freddie jamais cantaria novamente.
Cantou até morrer em 1991. Made in Heaven foi o último registro. Póstumo.
Freddie definhou no estúdio contribuindo até o fim para o álbum.
E assim, a maior banda da história se desfez.
Ninguém ousou mais que a banda Queen.
Que fique registrado sua ousadia. Sua imortalidade.
O show sem Freddie não continuou tão bem. Não há no mundo quem possa substituí-lo.
As cortinas se fecharam para sempre.
Mas, as músicas continuam vivas em nossos corações de fãs.
Who wants to live forever...