Imagem/fonte: https://www.maskparty.co.uk/pair-of-whitecream-tragedycomedy-masks--choice-of--headbands-or-ribbons-574-p.asp |
Retorno para falar de um tema que estou pronto para ser criticado pelos “cidadãos de bem”. Peço aos leitores desculpas pela ausência,
mas estive um tempo anestesiado observando o comportamento de certas pessoas
nas redes sociais. Alguns amigos de longa data, outros simplesmente colegas no
meu facebook, emitindo toda sua voracidade de falso moralismo repleto de ódio
ao próximo. Colocaram as mangas de fora em prol de uma "sociedade livre de todos
os males do mundo". Só esqueceram da autocrítica.
As redes sociais deram voz aos pseudomoralistas que entre quatro
paredes, no conforto do próprio lar destilavam seu preconceito na frente das
esposas, maridos e dos filhos, até mesmo ao lado de um colega vizinho sem
prestar atenção nas abominações que regurgitavam. O resultado foi proliferar e
colocar no mundo mais do mesmo. Gerações deploráveis que defendem até mesmo a
ditadura, usando o Iphone 8 nas redes sociais, no intervalo entre um jogo no
Playstation e um seriado na Netflix.
Essa gente ainda não viveu o mundo. Ganhou o mundo de mãos beijadas e
agora estamos vivendo o ódio às classes financeiramente inferiores, aos que
pensam diferente, por jovens que ainda não possuem pelos na face e adultos
intolerantes. A indignação vem segmentada no século XXI. Abominamos tal partido
e os outros são normais. Fechamos os olhos para as falcatruas de determinadas
figuras. Que bela democracia!
O tipo de pessoa que vira o rosto para os gastos e
benefícios exorbitantes e mais do que excessivos no judiciário e legislativo, e
esbraveja contra o bolsa família deveria ser estudada por um alienígena mais
evoluído. Ainda sonho com a vinda de um extraterrestre mais evoluído e talvez
espiritualizado, que irá abduzir certas espécies de seres humanos para estudar
como o indivíduo bípede caminha para trás.
Quando penso neste “cidadão de bem” e seu desejo por uma
arma carregada caminhando pelas ruas como um Clint Eastwood nos filmes de
Western, doido para descarregá-la em alguém, imagino que deve ser uma pessoa
com desejos enrustidos, mas no fundo não passa de uma pobre alma que talvez não
conseguiu nenhum afeto em sua existência. Ele quer tanto fazer justiça com as
próprias mãos que ignorou certas instituições que fazem parte da segurança
pública. Mas, querer que tudo funcione é difícil. Principalmente em um país
como o Brasil que teve seus investimentos em educação e saúde reduzidos. A
balança não equilibra dessa forma. É querer demais do povo.
Do jeito que as coisas vão, penso que existam pessoas que um
dia irão reivindicar nas redes sociais o retorno da escravidão institucionalizada.
Ela já existe, mas ainda tem que ser realizada por baixo dos panos. Para certos
“intelectuais” só falta legalizar. Não vou me surpreender com um projeto desses
na Câmara dos ratos. Virá com outro nome, talvez Neo sei lá das quantas,
acompanhado de um tal Estado Mínimo, seguido de certas reformas que irão "ajudar
o país a se reerguer". O pior é ver os
maiores defensores desse tipo de abertura virarem candidatos de partidos. Querem mamar nas tetas da nação do mesmo jeito.
Agora assassinaram uma vereadora, que lutava por um
país melhor. O que dizer? Muita coisa! Mas, muita coisa mesmo! Que essa imagem
seja exibida e reexibida por muitos e muitos anos, nas redes
sociais. Que façam um especial que conserve a memória de Marielle, que levou
cinco tiros em um cenário que se constituiu absurdamente. Você está incomodado
com isso? Pois, se depender de todos os humanos, que são de fato humanos,
ficará muito mais incomodado. E quando seu incômodo estiver extremamente
desagradável, lhe sufocando, olhe para o crucifixo que o leva a igreja todos os
sábados ou domingos e pense no homem que está na cruz, ainda chorando pelos
absurdos que acontecem neste país, assombrado e gerenciado por corruptos. Talvez
em algum momento você se envergonhe e chore pelas monstruosidades que
compartilha.
Um Presidente Americano certa vez, foi morto da mesma forma. A sociedade na época se indignou. Agora com a morte de Marielle muitos dizem no conforto de suas residências e escondidos atrás de um notebook, que há certo exagero. Duas figuras públicas que sangram vermelho. Existe diferença? Não era para ter, mas infelizmente, neste mundo tão preconceituoso e desigual, sim.
Em uma metáfora importante debatida no texto de Georges Didi-Huberman,
“Sobrevivência dos Vagalumes”, vemos
que ainda existem seres de fato humanos que tentam trazer certa luz no meio de
um horizonte de trevas. Esses seres se indignam com as soluções vazias e
instantâneas tão difundidas neste momento soturno com os holofotes da ignorância.
Há dias que preferem se calar diante da proliferação de mensagens e sentimentos
tão negativos. Mas, se reerguem e continuam se manifestando como se tivessem a
missão de levar conhecimento e paz aos ambientes. Que os vagalumes se
multipliquem e forneçam em seus lampejos de luz a chama da esperança de um
mundo mais humano. Mais Cristão.