terça-feira, 12 de dezembro de 2017

O suicídio, o imperceptível e uma retrospectiva pouco ortodoxa

George Frederic Watts - Descrença e esperança


Há um tempo não escrevo, mas tentei compilar algumas coisas importantes neste texto de fim de ano.

Dezembro chegou e mais um ano se finda. Tempo de olhar para trás e fazer um balanço do que foi 2017. Tentar entender o que fizemos de nossa vida. Acredito no misticismo de fim de ano, pois se encerra um ciclo e outro se inicia. É um chover no molhado necessário, pois essa passagem de ano significa que podemos recomeçar de uma forma melhor. Alguns devem tentar melhorar em vários níveis, outros apenas corrigir algumas coisas que não saíram bem. É uma reflexão do indivíduo consigo mesmo. Há aqueles que olham para trás com um misto de vergonha e tristeza e existem os que se orgulham da aventura que fizeram.

O fato é que ainda estamos respirando e o jogo recomeça. E a maioria quer jogar, ninguém quer ficar de fora. Participar e crescer, ter perspectivas de futuro, estudar, debater, atuar no mercado de trabalho, ter laços sociais mútuos e satisfatórios são fatores importantíssimos nesta jornada. É claro que isso não se conquista de um dia para o outro e sempre haverá percalços no caminho.

Émile Durkheim, célebre sociólogo francês, em sua famosa obra “O suicídio”, explica que a abreviação da vida se constitui em um fato social, diferentemente do que todos pensam, ser um ato íntimo. Durkheim explica que o indivíduo suicida é uma pessoa que considera sua existência um fato insuportável e as variáveis sociais são os principais fatores desta atitude. A força e a fragilidade dos laços sociais são determinantes neste processo. E quando Durkheim fala de laços sociais esses laços se estendem ao lado pessoal, profissional, crenças religiosas etc. O fato é que o autor possui dois centros de estudos em sua homenagem: um na Suécia e outro no Japão. Dois lugares com altos índices de suicídio. Pelo nome dos países dá para perceber que o Suicídio não tem relação com a pobreza. A ligação é muito mais profunda e diz respeito a uma sensação particular de isolamento e de solidão. Não ter o que dizer sobre si. Muito mais entristecedor do que ser o segundo lugar, muito mais entristecedor do que ser derrotado em inúmeras competições é estar excluído da sociedade, pois não jogar jogo nenhum é não existir na sociedade. Portanto, o suicídio é uma questão social.

Você deve estar se perguntando o porquê de eu estar falando isso neste texto de fim de ano?

Explico: A taxa de suicídios aumentou 12% nos últimos quatros anos. O número de pessoas depressivas aumenta a cada ano. A indústria farmacêutica vende milhões e milhões de remédios, pois a sociedade de consumo que nós vivemos tem fome de alimentar o seu ritmo alucinante. Todos querem jogar, todos querem ser felizes, todos querem mostrar que são capazes. Mas, neste mundo, infelizmente, não há lugar para todos.

Existe uma gama significativa da sociedade que alimenta um sistema cada vez mais desigual. Pessoas que vivem em ilhas isoladas (condomínios de luxo, bairros elitistas) e que querem distância de outras realidades. Indivíduos que possuem opiniões baseadas em superficialidades e estereótipos criados pela mídia, transformados em dogmas inquestionáveis. E neste processo algumas pessoas estão isoladas e depressivas. E algumas não possuem o devido apoio ou acompanhamento. Jovens, executivos, profissionais liberais, várias classes passando por tormentos imperceptíveis aos olhos dos outros. Os casos da “baleia azul” são apenas alguns exemplos.

Há filósofos e pensadores debatendo tudo isso e questionando a que ponto chegamos. Auditórios lotados de pessoas querendo alguma explicação para tamanha angústia e ansiedade. A Ética é um assunto muito debatido no momento porque há uma grande parcela da sociedade buscando evoluir e olhar às suas próprias falhas. Isso é o lado bom e representa coisas muito importantes para essa nova era. Representa indivíduos mais preocupados com o coletivo.   

A lógica do novo século está passando por uma metamorfose similar a uma furunculose. A infecção está saindo e vindo à tona no estrebuchar dos corruptos, dos falsos moralistas, conservadores hipócritas, pseudo-religiosos etc. Ainda estamos vivendo no século XX apesar de estarmos no século XXI. A lógica de produção sem limites está sendo repensada pouco a pouco na sustentabilidade outrora utópica. Mas as pessoas estão buscando mais informações e elas estão por aí, basta direção.


Essa nova geração de pessoas antenadas, independente da idade, é uma esperança de um 2018 melhor. Mesmo que vários indicadores preveem um cenário caótico, com intolerâncias ideológicas, as pessoas que se informam e querem mudanças em vários aspectos serão o bálsamo deste país. Ou se tudo der errado, uma esperança para seguir em frente. 

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