sábado, 25 de março de 2017

Poeta desarmado


Diferente do coronel que anda com sua arma no coldre,
o poeta anda com papel e caneta nos bolsos.
Sua munição não é feita de balas,
mas de ideias mais poderosas do que o próprio fogo. 

Em vez de atingir o corpo,
atingem a alma. 
Em vez de sangrar ou matar, 
nos fazem pensar. 

Mas tem dia que não é bom para o poeta, 
pois sai de casa desprevenido, 
e no meio da rua lhe vem a poesia. 
Sem papel, nem caneta, 
se aflige,
e perde o fio que o alimenta no dia a dia. 

Nada é pior que chegar em casa, 
e não achar um papel e uma caneta, 
para expressar sua emoção.
Além disso, lhe falta água e pão. 

Mas o poeta segue com coragem,
sua arte existe, pois a vida não basta. 

Amanhece outro dia, 
uma nova ideia lhe surge.
Declama ali mesmo na praça, no meio do público.
Alguns não entendem nada,
mas uma pessoa lhe acude. 

Foi tocada no seio da alma, 
pela emoção de um pobre pensador. 
Assim é a vida do poeta, 
De denário em denário,
lutando pela vida, 
fugindo do calvário,
trazendo luz e aliviando a nossa dor. 

Stefan

Dedicado a Ferreira Gullar (1930 - 2016). 

Nenhum comentário:

Postar um comentário